O livro Sarau[1] Asas Abertas: Mulheres Poetas: Penitenciária Feminina da Capital é uma antologia de textos literários em diferentes línguas escritos durante os três anos em que o Sarau Asas Abertas[2] vem sendo feito na Penitenciária Feminina da Capital, em São Paulo.
O sarau é mediado por Cissa Lourenço, Jaime Quiroga e Paulo D'Áuria, do coletivo Poetas do Tietê[3], grupo que gere diversos projetos de poesia de rua e para a rua. Fora dos centros de reclusão como a Penitenciária Feminina da Capital e as Fundações Casa, o coletivo promove saraus de poesia em espaços públicos, como os pátios de centros comerciais, terminais de transporte, estações de trem e de metrô e também em espaços ocupados pela população em situação de rua.
Assim, o livro surge como uma publicação de Edições do Tietê, coletivo editorial que publica as poesias e demais criações resultantes da atuação do grupo, e mais que isso, da potência criativa de seus participantes. Sua publicação foi feita também através de apoios provenientes do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais do município de São Paulo.
Um dos aspectos que mais nos interessa destacar nesse trabalho é a pluralidade de linguagens que habitam o cárcere e que encontraram um espaço de expressão no sarau e na antologia resultante dele. Em ambos participaram mulheres de diferentes nacionalidades e origens étnicas/raciais. Poetas nascidas em diversos países como Brasil, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Filipinas, Namíbia, Tailândia, Angola, entre outras partes do globo, formam o grupo de autoras que, através do espanhol, português e inglês, conseguem compartilhar suas experiências, sentimentos e potência criativa, não só entre si, mas também além dos muros.
Compartilhamos a seguir três poemas da antologia. O primeiro foi escrito por Daphney Tukisi publicado em sua versão original em inglês e em uma tradução para o português ligeiramente modificada por nossa equipe de trabalho, que também realizou a tradução para o espanhol. O segundo poema é de Daniela Vásquez e o reproduzimos tanto em português como em espanhol, tal como figurava na antologia. O último é de Bárbara Souza, escrito originalmente em português e cuja tradução para o espanhol foi por nós feita. Dos dois últimos poemas apresentamos também as traduções para o inglês, as quais contaram com a colaboração especial de Nathália Guereschi, participante da ação de extensão Precisamos e Vamos falar sobre violência contra a mulher, professora particular de inglês e estudante do curso de História – América Latina da Unila.
Daphney Tukisi
32 anos, é mulher, irmã e amiga, nascida e criada na África do Sul, na cidade de ouro, Joanesburgo. É mãe de duas lindas crianças.
I AM AN AFRICAN WOMAN
The color of my skin testifies, the blood that runs through my veins testifies, the coarse hair on my head testifies, I AM AN AFRICAN WOMAN.
The color of my eyes testifies, the clicking sounds of my voice when i talk testifies, the spirit of Ubuntu (humanity) and being a imbogoto (a rock) also testifies. I AM AN AFRICAN WOMAN.
The seas, the oceans, the mountains, and de hills they too testifies, - they have separate me from my loved ones, but I’m still proudly AN AFRICAN WOMAN.
EU SOU UMA MULHER AFRICANA
A cor da minha pele testemunha, o sangue que corre nas minhas veias testemunha, o cabelo grosso na minha cabeça testemunha, EU SOU UMA MULHER AFRICANA.
A cor dos meus olhos testemunha, os cliques em minha voz quando eu falo testemunham, o espírito do Ubuntu (humanidade) e ser um imbogoto (uma rocha) também testemunham, EU SOU UMA MULHER AFRICANA.
Os mares, os oceanos, as montanhas e os morros, eles também testemunham, - eles me separaram dos que amo, mas ainda sou orgulhosamente UMA MULHER AFRICANA
YO SOY UNA MUJER AFRICANA
El color de mi piel es testimonio, la sangre que corre en mis venas es testimonio, el cabello grueso en mi cabeza es testimonio, YO SOY UNA MUJER AFRICANA.
El color de mis ojos es testimonio, los chasquidos en mi voz al hablar son testimonio, el espíritu de Ubuntu (humanidad) y ser un imbogoto (piedra) también son testomonio, YO SOY UNA MUJER AFRICANA.
Los mares, los océanos, las montañas y los morros también son testimonio, - ellos me han separado de los que amo, pero aún soy orgullosamente una MUJER AFRICANA.
Daniela Vásquez
Poeta del viento, 22 anos, libriana, é uma jovem viajante que gosta de conhecer o lado real das pessoas. Orgulhosa de ser venezuelana, plasma amor quando pessoas leem seus poemas. Amor y paz.
RAFAELA
Mi nombre es Daniela, puedo ser todo
Y nada a la vez, pero escojo ser todo
Integración, reflexión, amor… No soy común
Ni corriente, soy una en 7 millones de personas
Soy aire suave, te ilumino con mi presencia,
El amor te hago con un sólo olhear
sabes muy bien que mi pensamiento te pertenece
Mi memoria la conquistaste con los gratos
Recuerdos que me dejaste
No te apago de mi vida
Ni quiero esquezerte
Porque tu fuiste como un oasis en este desierto
Mi corazón machucaron lo confieso
Pero tu llego y sano las heridas
abiertas y sangrientas
Así estes lejos te siento
Así me olvides.
yo nunca olvidare tu manera de olhear
Esa presencia que me hizo sentir libre
En un paraíso estando presa de cuerpo
Pero jamás de mente.
Fuimos y somos como el sol después de la tormenta. Te amare siempre.
RAFAELA
Meu nome é Daniela, posso ser tudo
E nada ao mesmo tempo, porém escolho ser tudo
integração, reflexão, amor… não sou comum
nem corriqueira, sou uma em 7 milhões de pessoas
sou ar suave, te ilumino com a minha presença
te faço o amor somente com o olhar
sabe muito bem que o meu pensamento te pertence
minha memória você conquistou com agrados
lembranças que me deixou
não te apago da minha vida
nem quero te esquecer
porque você foi como um oásis no deserto
meu coração machucaram, eu confesso
mas você chegou e curou minhas feridas
abertas e sangrentas
mesmo que longe, te sinto
mesmo que me esqueça
eu nunca esquecerei sua maneira de olhar
essa presença que me fez sentir livre
em um paraíso, estando presa de corpo
mas jamais de mente.
Fomos e somos como o sol depois da tempestade. Te amarei para sempre.
RAFAELA
My name is Daniela, I can be everything
And nothing at the same time, but I choose to be everything
integration, reflexion, love… I am not ordinary
nor unexceptional, I am one in 7 million people
I am soft air, I lighten you up with my presence
the love, I make with you just by looking
you know very well my thoughts are yours
my memory you’ve conquered with flattery
memories you’ve left me
I don’t erase you from my life
nor do I want to forget you
because you were like an oasis in this desert
my heart they hurt, I confess
But you arrived and healed my wounds
open and bloody
Even if you’re far, I feel you
even if you forget me
I will never forget your way of looking
this presence that made me feel free
in a paradise having my body locked
but never my mind.
We were and we are like the sun after the storm. I will love you forever.
BARBARA SOUZA
Brasileira nata, sergipana nascida em Aracaju em 1992, de onde tirou a força e determinação das raízes de Maria Bonita e Lampião. Amante da música, da poesia, da literatura e filosofia. Gosta de unir todos os sentimentos de amor e também de dor, e transpor nos seus versos pontadas de nostalgia e excitação na curiosidade do nobre leitor ao faze-lo ter um olhar a fundo sobre seu universo.
SONHO ROSA
A vida é totalmente joyful, joia rara.
O avião foi
a ponte cedeu
e na minha vida
ainda
nada aconteceu.
Sem sucesso, profissional e moral.
Um regresso turbinou o meu progresso
para pôr em ordem
o sentimento flamejante de ser patriota
e jamais desistir de meus sonhos.
Ele poderia ser cor-de-rosa
mas eu, tão peralta
e às vezes idolatrada
descolori a cor amada
azul, verde e amarelo
por um arco-íris
tão grande e tão belo
que vai além de todo
o meu verso
do reverso.
SUEÑO ROSA
La vida es totalmente joyful, joya rara.
El avión se fue
el puente cedió
y en mi vida
aún
nada sucedió.
Sin éxito, profesional y moral.
Un regreso turbinó mi progreso
para poner en orden
el sentimiento flameante de ser patriota
y jamás desistir de mis sueños.
Él podría ser color rosa
pero yo, tan traviesa
y a veces idolatrada
decoloré el color amado
azul, verde y amarillo
por un arcoíris
tan grande y tan lindo
que va más allá de todo
mi verso
del reverso.
PINK DREAM
Life is completely joyful, rare jewel.
The plane left
The bridge collapsed
and in my life
yet
nothing happened.
Without success, professional and moral.
A setback turbined my progress
to put in order
the flaming feeling of being a patriot
and never let go of my dreams.
It could be pink
but I, so dandy
and sometimes worshiped
discolored the loved color
blue, green and yellow
for a rainbow
so big, so beautiful
it goes beyond all
my verse
of the reverse.
_____________________
Notas:
[1] «Hoy en día el sarau está siendo una celebración de la palabra en la periferia», afirma el poeta paulista Michel Yakini. Conocidos como movimientos de literatura marginal, los saraus son «un movimiento que pone la palabra en circulación con una diversidad de géneros (poesía, cuentos, novelas, canciones) y soportes (declamación, publicación de libros, revistas, afiches callejeros, performances)». Tomado de: https://www.youtube.com/watch?v=BLlEsDaF_z4
[2] Para saber más, visitá: http://sarauasasabertas.blogspot.com/
https://www.facebook.com/sarauasasabertas/
[3] Para saber más, visitá: https://www.facebook.com/poetasdotiete/
https://poetasdotiete.blogspot.com/
Comentários
Postar um comentário