sexta-feira, 5 de julho de 2024

Mulheres atrás das grades II

Nesta segunda entrada dedicada à ONG Mujeres Tras las Rejas, que trabalha com mulheres privadas de liberdade na cidade de Rosario (Argentina), compartilhamos uma entrevista com as atuais responsáveis pela oficina de poesia. Nela, Graciela Rojas, Claudia Almirón, Rosana Guardala e Lilian Alba nos contam sobre sua forma de trabalhar e entender a oficina. Após a entrevista, apresentamos uma seleção de poemas produzidos em anos anteriores nas oficinas e publicados em diferentes fanzines. Vale destacar que boa parte desses poemas é resultado de uma escrita coletiva e/ou anônima. Quer dizer, trata-se de uma proposta estético-política que se desloca dos enquadramentos individualizantes.

                                   




Para esta entrada, contamos com a colaboração de mulheres privadas de liberdade na Penitenciária Feminina de Foz do Iguaçu, que, também de forma coletiva, no espaço das oficinas de escrita criativa organizadas pelo projeto Direito à Poesia, realizaram a tradução da maioria dos poemas para o português.


Para a tradução, de maneira geral, foram adotados os seguintes passos: primeiro, os poemas foram lidos em voz alta em espanhol e as participantes da oficina fizeram uma tradução oral a partir do que compreendiam pela proximidade entre as línguas. Em seguida, ês oficineires ofereceram algumas explicações sobre palavras ou expressões não compreendidas e sobre o registro, por exemplo, se os termos utilizados eram gírias. A partir das diferentes versões propostas, o Laboratório de Tradução da UNILA definiu as versões finais, que foram apresentadas às participantes para sua aprovação.


Ao lado dos poemas e suas traduções aparecem alguns dos comentários (ou melhor, dos efeitos) que a leitura dos poemas das escritoras privadas de liberdade em Rosario produziram nas leitoras e tradutoras privadas de liberdade no Brasil. Da mesma forma, aparecem outras possibilidades de tradução que surgiram em voz alta durante o processo de tradução coletiva.


No caso dos poemas “Ser mãe, ser menina” e “O pecado e o perdão”, partiu-se de uma primeira tradução feita individualmente (por Mayara Nunes Correa e Gabriela da Silva de Brito, respectivamente) e depois foi feita uma revisão conjunta, em voz alta, na oficina. Os poemas “Não se pode voar com revista...” e “O cotidiano” também foram primeiro traduzidos individualmente, por Mayara Nunes Correa e Josiane Henrique, e depois revisados por integrantes do Laboratório de Tradução da UNILA, que também se encarregaram da tradução do poema “Como um encontro permanente”.

Participaram das traduções coletivas: Ana Laura Mendes, Andreia da Silva, Cassia Teixeira, Dyullian Correa, Fernanda de Souza, Iraci de Freitas, Jennifer Alecrin, Josiane Henrique, Karla Pinow, Kauana Domingues, Mayara Correa, Lucas dos Santos, Tainara Neves, Thalia Naiser, Vitoria Adão, Viviane da Cruz e Gabriela de Brito.

                                                  



Por que, dentre as oficinas que são oferecidas por Mulheres Atrás das Grades, vocês decidiram fazer uma de poesia? Como entendem a importância dessas oficinas?

Acreditamos que a poesia é uma forma de olhar, de ver as coisas de uma nova maneira, ou seja, como uma forma de parar que termina sendo habilitadora. Assim, a escrita pode ter ou não a forma de um poema, mas tem sempre essência, ritmo, música e, sem dúvida, a novidade daquilo que nasce diante dos olhos de quem escreve.

A palavra como ponte...sentir, dizer, tornar possível. A emoção é transmitida nas vozes protagonistas. A poesia é pele, grito, angústia, dúvida, pergunta, riso e nó na garganta. É o modo e a forma.

As meninas, muitas vezes, se referem às oficinas como locais de distração ou que trazem ar pra elas, dão fôlego. Isso permite que elas saiam por um instante da rotina sufocante e atemporal. O mundo simbólico que a escrita abre produz efeitos diretos em quem participa da oficina. A proposta de uma escrita particular, como a poesia, não só abre esse mundo, mas o multiplica ao procurar as palavras exatas, a frase contundente, a expressão que melhor comunica. Não é apenas um exercício de mera escrita, mas potência tudo o que não é permitido dentro dos muros, aquilo que permite caminhar para mundos imaginários, fantásticos ou paralelos num lugar cinzento e cercado de grades.


O que vocês podem nos contar sobre o funcionamento das oficinas de poesia? Poderiam nos dar alguns exemplos das atividades que já fizeram? 

As oficinas duram cerca de uma hora e meia. Preparamos o lugar e esperamos elas chegarem. Isso significa que montamos um lanche com chá, chimarrão ou alguma coisa refrescante dependendo da época do ano, e alguns biscoitos. O lanche proporciona um clima de espera, de cotidianidade, de proximidade e intimidade, que favorece o aparecimento da troca entre todes. 

Depois, apresentamos a proposta que é sempre um convite, nunca uma obrigação. A atividade traz algum texto breve, disparador ou, também em alguns casos, pode deixar de lado a leitura para dar lugar aos sentidos (olfato, audição) e, em seguida, escrever a partir dessa percepção. Uma vez que termina o processo de escrita, e se as meninas quiserem, são convidadas a compartilhar a leitura do texto que escreveram no dia. Algumas leem suas próprias produções, outras aceitam que uma companheira leia a sua. A ideia de ler os escrito sem voz alta é que elas possam se animar a se abrir e também ver que muitas vezes seus sentires são compartilhados. Esse momento geralmente é repleto de emoções desencadeadas pelos escritos. Alegria, ansiedade, medo, tristeza, nostalgia e amor se entrelaçam em um bate-papo informal em que cada uma pode expressar livremente o que um texto provocou. Falar em voz alta, de forma cotidiana e simples.

Que relevância tem para vocês publicar o resultado das oficinas? 

É muito importante para a ONG, mas acima de tudo para as mulheres privadas de sua liberdade, porque mostra que a palavra atravessa os muros e que o lugar em que estão é uma circunstância, mas o desejo e o trabalho com ela podem levá-las a outros lugares potenciais.

Reforça a ideia de poder estar em contato com o fora a partir de outro lugar, não o de “presas”, mas sim o de escritoras, autoras de uma obra coletiva.

Que seus escritos cheguem a lugares como as salas das universidades ou o Festival Internacional de Poesia, que acontece anualmente em nossa cidade. Saber que são lidas por vocês, e que vocês têm interesse em traduzir suas obras gera um estremecimento em suas realidades. Mulheres que não são vistas nem ouvidas, que vivem em um mundo paralelo ao que vive o restante da sociedade e que carregam ou carregaram estigmas sociais por estarem ali. Assim voltam a serem vistas e ouvidas, levadas em consideração, e isso dá valor à pessoa, a dignifica. É mais do que relevante, é acreditar na criação, saber ser potentes, reconhecer-se como fazedoras, mostrar-se a partir do mais profundo. A palavra nutre, abriga, acalma.

    


    Supersticiones | Superstições

No escribas tu nombre en la pared de la celda

Porque si te vas y queda tu nombre acá

Podes volver algún día

Si se te vuelca a la azúcar, libertad

Y si es yerba, traslado

Cuando te vayas no mires pa trás

Las que quedamos nos unimos en un solo aplauso     de despedida

Não escreva seu nome na parede da cela

Porque se você partir e seu nome ficar aqui

Você pode voltar algum dia

Se o açúcar derramar, é liberdade

E se for erva-mate, é transferência

Quando você partir, não olhe pra trás

Nós que ficamos nos unimos em um único aplauso de despedida


Gisela Schimpf & Daniela Dalinger
Poema do fanzine Que tu mente sea tu piloto






            Los pajaritos | Os passarinhos

En esta Unidad

todos los días los gorriones

están presos como nosotras.

Nosotras que tenemos corazón

les damos de comer.

Yo si fuera flaca

me prendería de sus alas

y me iría volando con ellos.

Nesta Unidade

todos os dias os pardais

estão presos como nós.

Nós que temos coração

damos de comer pra eles.

Eu, se fosse magra,

me prenderia nas asas deles

e sairia voando.


os pardal





das asas deles


Criação coletivaPoema do fanzine Mujeres tras las rejas


 Los gorriones son más chorros…

 Os pardais são mais ratos...

 

Los gorriones son más chorros                              que nosotras.

Te levantás dos segundos                         y se comen los fideos.

Ni lerdos ni perezosos

vienen en banda

a comer a Patricia.

           Os pardais são mais ratos do que nós

       Você levanta dois segundos e eles comem o miojo

   Como não são bobos nem nada

eles vêm em bando

comer a Patrícia.

mais lisos


 o macarrão

      Nem lerdos nem preguiçosos


gente, quem é a Patrícia?


AnônimoPoema do fanzine Mujeres tras las rejas


            Yo estuve con un policía… | Eu estive com um policial...

Yo estuve con un policía. 

Hay buenos y malos.

Estuve con las dos clases.

Nos encontramos en un lugar

donde yo no podía estar.

Yo andaba en otra, en la noche.

No era wow, pero estaba lindo.

Juntos duramos dos días.

Eu estive com um policial.

Têm bons e ruins.

Estive com os dois tipos

Nós nos encontramos em um lugar

onde eu não podia estar.

Eu estava em outra, na noite.

Não era uau, mas era bonito.

Juntos duramos dois dias.



as duas classes

na viatura? Na delegacia?



    não foi nossa que policial mais gostoso do mundo, mas está valendo


AnónimoPoema do fanzine Mujeres tras las rejas



            El encierro | O encarceramento

O trancamento, o inferno
Me entristece y nos pone mal.
Por eso hay que salir un poco
(al patio)
a tomar sol
con mis amigas
y mirar los pájaros volar,
cruzarse en los techos
de la cárcel en donde envejezco.

Me entristece e nos faz mal.

Por isso, tem que sair um pouco

(para o pátio)

pegar sol

com minhas amigas

e olhar os pássaros voar, 

se cruzar nos telhados

 do cárcere onde envelheço.




quem vai no pátio não vai pra olhar os pássaros, vai para fofocar e namorar



cruzar os telhados

Criação coletiva
Poema do fanzine Mujeres tras las rejas


            El pecado y el perdón | O pecado e o perdão

um poema picante

Hay una hermana jovata

leyendo la palabra del Señor.

Hace dos meses que no viene

y nosotras estamos enfrentadas

en otra mesa.


Tenemos mate, trapos y tijeras.

Libros, casi todos porno.

Acabamos de leer un cuento

sobre dos minas que se dan masa,

una cana con trenza y una chica

en cupé.

¡Fuego!


En la vida hay que probar todo.

Tem uma irmã velhota 

 lendo a palavra do Senhor.

 Faz dois meses que não vem

 e nós estamos sentadas frente a frente

 em outra mesa.


Temos chimarrão, tecidos e tesouras.

 Livros, quase todos pornô.

 Acabamos de ler um conto

 sobre duas minas que dão uns amassos,

  uma policial com trança e uma menina

 em um coupé. 

 Fogo!


Na vida tem que provar tudo.

   falsa profeta

    levando a palavra







                                       se amassam



cupê

Lucía Alcaraz & Rosana Esquivel
Poema do fanzine Mujeres tras las rejas





         Ser madre, ser niña | Ser mãe, ser menina

Me gustaría llevar a mi hija                                         al parque

queremos hacer tantas cosas

que no sabemos qué hacer

Jugar, correr, reír de alegría.


Quisiera salir de este lugar

para estar con mis hijos                                          y mis nietos

estamos tan tristes en este lugar

estar con los chicos te alegra todo

Fiorella despertaba a todas

—permiso chicas —                                            relinda su educación.


Cuando jugás con los nenes

sos un niño más

y eso es lo que queremos                                                  volver a ser.


Cuando vienen los hijos                             de las chicas a la visita es...

correr todo.


Los sábados hay olor                                                      a pastafrola

pizza, empanadas

es lindo verlos correr.

Eu gostaria de levar minha filha   ao parque

queremos fazer tantas coisas

que não sabemos o que fazer

Brincar, correr, rir de alegria.


Gostaria de sair desse lugar

      para estar com meus filhos                                                  e netos

estamos tão tristes neste lugar

estar com os meninos alegra tudo 

Fiorella acordava todas

— com licença meninas —             tão educada ela.


Quando você brinca com os piás 

você é uma criança a mais

 e isso é o que queremos           voltar a ser.


Quando os filhos                              das meninas vêm nas visitas é...

correria total.


Os sábados tem cheiro                    de torta de goiabada

de pizza e de empanada

é lindo ver eles correndo. 











me alegra muito




                                                                                                                     os neném

você é um menino mais


 






No dia de visita na PFF tem cheiro de mãe... 

Tem uma coisa que todo mundo faz na visita e não fala. A gente que gosta do cheiro da mãe ou gosta do cheiro do filho, pega uma peça se a gente pode. Se a gente' tiver  uma oportunidade de pegar uma peça deles, a gente pega. A minha mãe veio uma vez só nesses quatro cinco anos que eu estou aqui. A primeira coisa que eu fiz foi fazer ela tirar o top e trocar comigo... eu peguei o top dela e peguei o chinelo e dei o meu. Eu fiquei sentindo o cheiro dela no top dela até sair.


Lucía Alcaraz & Rosana Esquivel
Poema do fanzine Las Leonas




No se puede volar con requisa

Não se pode voar com revista 

No se puede volar con requisa.

Prohibido la libertad de expresión.

Imposibilidad de medicación para niños.

Empleadas verdugas, afirmado al 100 %,                                                               ok?

Chicas leonas prohibido decir basta.

Promesas, posibilidad, palabras

que parecen nubes acá adentro.

Basta de medicación,

el grupo dice basta de medicación                                                       sin nombre,

sin carne, todo el día pollo                                                           que si no hubiera

rejas en el techo saldríamos volando =)

Não se pode voar com revista 

É proibida a liberdade de expressão

Impossível remédio para os meninos

A empregada carrasca, confirmado 100%, belê? 

Meninas leoas proibido dizer chega 

Promessas, possibilidades, palavras

que parecem nuvens aqui dentro.

Chega de remédio, 

o grupo diz  chega de remédio                    sem nome,

sem carne, todos os dias tem frango          que se não tivesse

grade no telhado a gente saía voando =)



A empregada tem chicote, que está firmado a 100% OK?

Meninas leoas chega de dizer está proibido




no grupo dizem

Ana Basualdo,Cintia Giménez & Rosana Maidana.

Poema do fanzine Las Leonas



Lo cotidiano | O cotidiano

Me levanto y pongo la pava

todo el mundo hace lo mismo

y si pasa la asistente                                          le pido si necesito algo

si es un llamado o una autorización

para que nos traigan un electrodoméstico

la asistente es la caminante.


Arroz con leche

flan, flan, flan

gelatina, gelatina, gelatina

esa es la semana.


Nos despertamos y nos miramos

como diciendo hoy a quién le toca

corremos para todos lados

es un encierro muy chico.


El otro día después que estuvimos

compartiendo empanadas

fue que vino todo el lío

la acción represiva

esa es la costumbre que ellos tienen.

Eu me levanto e coloco a chaleira no fogo

todo mundo faz o mesmo

                                     e se a assistente passar               eu peço se preciso de alguma coisa

Se for uma ligação ou uma autorização

para nos trazer um eletrodoméstico

a assistente é a andadora.


Arroz doce

pudim, pudim, pudim

gelatina, gelatina, gelatina

essa é a semana.


Acordamos e olhamos uma para o outra

como se disséssemos hoje é a vez  de quem

corremos para todo lado

É um confinamento muito pequeno.


Outro dia depois de estarmos

compartilhando empanadas

foi que deu a maior confusão

a ação repressiva

Esse é o costume que eles têm.








                               Arroz com leite






     hoje de quem é a vez

uma prisão muito pequena?/é uma cela muito pequena?


Criação coletiva
Poema do fanzine Las Leonas


Como una juntada permanente

Como um encontro permanente

Es como una juntada permanente con amigas

tomamos mate charlamos

se lava se recauchuta

al fondo suena Leo y Karina

los pajaritos suben bajan la reja del cielo


la vida es como una milonga

hay que saberla bailar

la vida es como una gran anécdota

me pongo a contarla y vuela

la libertad no se toma ni en sueños


yo tuve una vida difícil

las ideas las tengo todas en la cabeza

no me las dice nadie

la abuela lee sobre bicicletas


al Agustín le gusta pintar por fuera de todo

se rompe las reglas del papel

se escribe a dos manos

en la mesa la pared la hoja

armo mi libro y lo destruyo porque es mío

Es como una juntada permanente con amigas

van a volver a entrar?

acá se paga condena

largas culpas

acá los días de nubes

somos nubes

para que salga a la luz se escribe 

-escribamos de la vida es

-escribamos un cuento para chicos

se viene el día del niño

y ellos aunque estén acá

siguen siendo niños


la culpa es un invento

mi error fue no cambiar el domicilio

y la culpa de que un niño viva acá

estoy pagando

algo que no hice


Es como una juntada

permanente

con amigas

se nos vaya en un suspiro

se caiga la bronca

toda prendida en el papel

la pared el piso

que estamos vivas

con la incertidumbre de no saber

— eso también pasa afuera

— y si hay quilombo o se prende fuego todo?

É como um encontro permanente com as amigas

tomamos chimarrão conversamos 

a gente lava dá aquela recauchutada 

ao fundo se escuta Leo e Karina 

os passarinhos sobem descem pela grade do céu 


a vida é como uma milonga 

tem que saber como dançar 

a vida é como uma grande anedota 

começo a contá-la e ela voa 

a liberdade não se alcança nem em sonhos


eu tive uma vida difícil 

as ideias tenho todas na cabeça

e ninguém me conta elas

a avó lê sobre bicicletas 


Agustín gosta de pintar saindo das margens 

ele quebra as regras do papel 

escrever com as duas mãos

na mesa na parede na folha 

monto meu livro e destruo porque é meu 

É como um encontro permanente com as amigas

será que vão voltar pra cá?

aqui é paga a sentença

longas culpas

aqui nos dias com nuvens 

somos nuvens 

para que haja luz se escreve 

— vamos escrever sobre a vida é 

— vamos escrever um conto para as crianças 

o dia das crianças está chegando 

e mesmo que estejam aqui 

continuam sendo crianças


a culpa é uma invenção 

meu erro foi não mudar de endereço

e a culpa de que uma criança more aqui 

estou pagando 

algo que eu não fiz


É como um encontro 

permanente

com amigas 

acabe num piscar de olhos

se despeje a raiva 

toda ardendo no papel

na parede no piso

que estamos vivas 

com a incerteza de não saber 

— isso também acontece lá fora 

— e se tem treta ou se toca fogo em tudo?

Criação coletiva

Poema do fanzine Las leonas

sábado, 8 de junho de 2024

Mulheres atrás das grades I


    A ONG Mulheres Atrás das Grades é uma equipe interdisciplinar que atua na Unidade Nº5 de Mulheres de Rosário, Argentina. Sua origem remonta ao ano de 2006, quando Gabriela Rojas e Raquel Migno, que cursavam um mestrado em gênero na UNR (Universidade Nacional de Rosario), escolheram abordar o cárcere de mulheres como tema de estudo e espaço de atuação, e desde então não deixaram de trabalhar nesse espaço. Com o tempo, começaram a convidar pessoas de distintas profissões a participar da equipe de trabalho e, em 2008, com o objetivo de ter um respaldo formal e fortalecer suas intervenções no território carcerário do Instituto de Recuperação de Mulheres da Unidade 5, formaram juridicamente a ONG.




Ao longo de seus quase 20 anos de existência, Mulheres Atrás das Grades vem realizando diferentes atividades de educação não formal com mulheres privadas de liberdade, incluindo uma grande diversidade de oficinas acompanhadas por profissionais da área abordada: saúde reprodutiva, sexualidade, arte, maternidade, fotografia, teatro, rádio, literatura, entre outras.

            Nessa primeira entrada dedicada a Mulheres Atrás das Grades, compartilhamos um capítulo legendado em português da série argentina Historias desde Dentro, que apresenta curtas documentais realizados para o Comitê Nacional para a Prevenção da Tortura, sobre boas práticas que são realizadas nas penitenciárias desse país. O documentário se centra na experiência de Mulheres Atrás das Grades com a Casa de Pré-egresso, um lugar de acolhimento e capacitação de mulheres com direito a saídas transitórias. A produção inclui entrevistas tanto das mulheres privadas de liberdade que participaram do projeto como das oficineiras, as quais comentam sobre a situação no espaço carcerário para mulheres de Rosário e suas experiências trabalhando em/contra esse espaço, entre outros temas. A Casa de Pré-egresso, que foi inaugurada em 2021, teve que ser fechada em 2023 devido à instabilidade política e econômica na Argentina.





Visite as redes sociais de Mujeres Tras Las Rejas para conhecer melhor o trabalho delas!
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Participaram da tradução e revisão desta entrada: Caterine Hernández, Leonardo ChirinoAmanda Lembeck, Janaina Pontes, Penélope Chaves, Ana Laura Binsfeld Vieira, Ximena Vargas, Mario Rodríguez Torres y Bruna Macedo.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento II

Uma página ocupada por expressões comumente usadas na prisão, que estão atrás de linhas pretas que as tacham; esse é um dos textos do livro Mulheres possíveis: corpo, gênero e encarceramento que mais chamou nossa atenção e que queríamos traduzir para o espanhol. O que nos atraiu particularmente nesse texto é que ele resistiu à nossa leitura. O texto foi escrito em um português que entendemos apenas parcialmente. Nele apareceram diversas expressões que escaparam até mesmo dos registros da internet.


                                                Fonte da imagem https://www.vaniamedeiros.com/mulheres-possiveis

Para entender o que o texto queria dizer, foi necessário que o lêssemos com pessoas que viviam no território de onde provinha. Foi assim que o levamos para uma das oficinas que Direito à poesia realiza na Penitenciária Feminina de Foz de Iguaçu e perguntamos às participantes o significado das expressões. Sua identificação com o texto foi imediata. Elas sabiam e nos explicaram o significado das expressões, embora, como nos alertaram, algumas delas sejam usadas em São Paulo, mas não em Foz.

Graças às participantes da oficina, tínhamos informações suficientes para tentar traduzir o texto, mas ainda tínhamos o problema de saber para qual espanhol traduzir. Traduzi-lo para qualquer forma de espanhol padrão traria uma transparência que acabaria com ele (não é a transparência absoluta o objetivo dos mecanismos de controle?), sem mencionar o espanhol supostamente neutro que existe apenas como um artefato de mercado para neutralizar os poderes das diferentes formas de falar no continente. Por outro lado, pareceu insuficiente traduzir o texto optando por formas coloquiais de alguma variante do espanhol, pois não deixaria de apagar suas marcas territoriais. 

Para restaurar essas marcas, contamos com a colaboração de alguns coletivos da Red Feminista Anticarcelaria de América Latina, que trabalham junto com mulheres privadas de liberdade em diferentes países do continente, como: Yo no fui de Buenos Aires, Argentina; Hermanas en la Sombra de Morelos, México, e Pájarx entre Púas de Los Andes e Valparaíso, Chile. Propusemos a tarefa de traduzir o texto, com base nas explicações que enviamos a elas sobre o significado de cada expressão em português. Os resultados podem ser vistos nesta entrada. 

Como era de esperar, as tradutoras nem sempre reconheceram expressões locais análogas às usadas no presídio do Brasil, e por isso algumas não foram traduzidas. Os espaços em branco nos textos dizem respeito a essas expressões. No caso do Chile, as tradutoras de Pájarx entre Púas nos deram mais de uma opção para traduzir algumas das expressões, e decidimos incluir a maioria dessas variantes. As companheiras de Yo No Fui, da Argentina, além de traduzir as expressões, compartilharam conosco ainda outras usadas nos presídios de Buenos Aires, as quais foram incluidas no final de sua tradução.   

O processo de diálogo e construção conjunta com as coletivas da Red Feminista Anticarcelaria de América Latina não foi apenas um enriquecimento para a tradução, mas também uma experiência de conexão e aprendizagem mútua das diferentes formas de dizer das prisões da América Latina. Convidamos cada leitora/e a mergulhar nestas páginas, não apenas como um ato de descoberta, mas também como uma oportunidade de construir pontes para outros mundos.
















Participaram da tradução e revisão desta entrada: Bruna Macedo de Oliveira Rodrigues, Mario Rodríguez Torres, Ximena Vargas, Janaina Andriolli, Caterine Hernandez Valencia, Penélope Chaves Bruera e Cristiane Checchia

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento I

O livro Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento (2019) reúne alguns dos resultados dos laboratórios que as artistas Beatriz Cruz, Leticia Olivares, Sandra Ximenez e Vânia Medeiros realizaram com mulheres privadas de liberdade na Penitenciária Feminina da Capital (PFC), no Carandiru, em São Paulo, Brasil. Os laboratórios (quatro, além de "o escambo poético") podem ser resumidos como espaços para experimentar formas de ser mulher fora dos enquadramentos patriarcais e punitivistas.

A seguir, compartilhamos alguns fragmentos que traduzimos para o espanhol do livro: a introdução, onde a proposta das artistas é explicada detalhadamente, e dois textos poéticos. Um é coletivo, resultante da costura de histórias muito breves sobre o nome próprio, o que nos faz perceber a quantidade e a diversidade de mulheres que participaram dos laboratórios e que são silenciadas no espaço prisional. O outro é um texto escrito por uma dessas mulheres. Nele, a incalculável potência do corpo é apresentada como inseparável do território (amazônico) com o qual ele se funde em um sorriso.

Dedicamos a seguinte entrada a outro dos textos do livro. Os resultados que sua tradução produziu merecem uma apresentação à parte.

                                                                                               


                            

São Paulo,

05 de dezembro de 2019

Olá,

Esta é uma carta, endereçada a você, que, em algum momento da sua história, entrou em contato com este livro. “Uma carta é uma visita”, colhemos em nossas buscas de definições para esta palavra. Te convidamos, então, a visitar essa coleção de folhas de papel, impressas com fotos, textos e desenhos que apresentam um pequeno recorte da vida de algumas mulheres, durante um período determinado. Nele, imagens e palavras revelam a singularidade de cada uma, ao mesmo tempo em que contam um relato coletivo. Diversas vozes ecoando para narrar histórias possíveis.

Esta publicação é fruto do Projeto Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento, com apoio do programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018. O trabalho, entretanto, acontece desde 2016, de forma voluntária ou com apoios pontuais de unidades do Sesc, uma ou duas vezes por semana, na Penitenciária Feminina da Capital (PFC), localizada no antigo complexo do Carandiru, em Santana, na Zona Norte de São Paulo. Esse lugar carrega uma memória que não pode ser apagada. As penitenciárias masculinas foram demolidas, foi criado um parque no local – o Parque da Juventude. As femininas permaneceram. Mais de um quilômetro de muros isolam a penitenciária das avenidas movimentadas no arredores e do cotidiano da cidade.

E você, onde você está agora?

O que você pode ver neste momento ao seu redor, do lugar onde está?

Já esteve ou está numa penitenciária?

“Consideramos as prisões algo natural, mas com frequência temos medo de enfrentar as realidades que elas produzem. Afinal, ninguém quer ser preso. Como seria angustiante demais lidar com a possibilidade de que qualquer pessoa, incluindo nós mesmos, pode se tornar um detento, tendemos a pensar a prisão como algo desconectado da nossa vida.” (DAVIS, 2018, p. 16)

Essa é uma afirmação de Angela Davis, filósofa e ativista estadunidense.

Você acha que a prisão é algo inevitável na sociedade?

Te fazemos essas perguntas porque, durante o Projeto, fizemos um monte delas – algumas triviais, outras mais complexas. Algumas estão destacadas, ao longo do livro. Foram feitas por e para mulheres, dentro e fora do sistema penitenciário. Talvez elas sejam uma forma de começar um diálogo ou de olhar ao redor da vida numa penitenciária, de entender o contexto de uma sociedade que aprisiona corpos de mulheres – sobretudo negras – de forma exponencial.


O que nos separa?

Talvez tenha sido essa, uma das perguntas que ficou reverberando por mais tempo. Chegamos até à PFC, em 2016, por um convite da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). A direção da penitenciária nos abriu as portas e sempre foi bastante receptiva às nossas idéias. Quatro mulheres artistas, que trabalham com diferentes linguagens – performance, música, artes visuais e teatro – e que, sobretudo, queriam conversar sobre corpo, gênero e encarceramento. Essas palavras passaram a ser eixos de pesquisa, conversa e experimentação e serviram para abordar temas pertinentes aos pensamentos e ações a respeito de pertencimento e autonomia dos corpos, o que é ser mulher, o que é liberdade, entre outras questões. Fomos, ao longo do projeto, criando e pensando sobre o significado desses e outros termos, construindo um glossário, a partir das definições a que chegávamos. Estes “verbetes” aparecem, ao longo do livro, em folhas azuis menores.

Começamos uma série de encontros que chamamos de Laboratórios de Criação (Labs) onde o corpo estava sempre no centro das experiências. Força, resistência, apatia, surto, cansaço, euforia, emoção: a busca era (e é) por mover algo neste espectro e nos conectar com o que está vivo em cada uma de nós.

No livro, estão imagens e palavras colhidas em quatro laboratórios de criação, que aconteceram entre outubro de 2018 e julho de 2019. No Lab_Caderno de Campo cada uma tinha um caderno, feito à mão, em que fazíamos propostas de desenho e escrita, semanalmente. A busca era por criar narrativas – ou contranarrativas – a partir daquelas que estão, todos os dias, vivendo o encarceramento. Presentificar o corpo, olhar ao redor e evocar imagens deste período.

No Lab_Performance, entrávamos todos os dias com uma mala de roupas – mais de 80 peças – para nos vestir ou despir. Tirar o uniforme e colocar sobre a pele outras camadas de subjetividade, relatar, com jogos teatrais, música e imagens, a força de cada corpo. O resultado deste momento foi uma performance apresentada para outras presas e convidadxs externos. Já no Lab_Culinária, cozinhamos e aprendemos receitas vegetarianas com a Chef Govinda Lilamrita, que conduzia o trabalho. Cozinhar era um pretexto para falar de autonomia, cuidado e de um tema importante no contexto prisional, a comida.

O Escambo Poético foi a última atividade realizada, com duração de quatro meses. Trata-se de uma troca de cartas entre mulheres que estão na penitenciária e mulheres que estão fora, inscritas mediante uma convocatória pública. Uma espécie de rede de sororidade. A carta, na prisão, é uma forma de comunicação que parece manter pulsando os corpos. O veículo para o encontro de mulheres que não se conheciam e se propuseram a trocar ideias, angústias, desejos, medos… Nós fazíamos o leva e traz. Em cada encontro, tanto dentro como fora, além de ler e responder às cartas, sugerimos textos de diversas autoras para serem discutidos, atividades reflexivas, exercícios corporais, de escrita e de desenho.

O livro também apresenta, além dos ecos destes momentos criativos, duas conversas entre mulheres que têm envolvimento com o sistema penitenciário e o Projeto. Trazemos, então Walessandra Souza Rodrigues entrevistando Dina Alves, e Govinda Lilamrta sendo entrevistada por Yamila Goldfarb. São vozes que se somam para pensarmos sobre o encarceramento de maneira mais ampla. Afinal, pensar sobre as mulheres que estão presas é pensar sobre como queremos, enquanto sociedade, lidar com a desigualdade social, a violência contra a mulher – em diversos âmbitos – o racismo e a política a respeito das drogas.

Procuramos, nesta publicação, não hierarquizar importância entre textos, imagens, desenhos e autorias. As narrativas são sobrepostas e entrelaçadas. Fomos responsáveis pela organização deste material, sempre em diálogo, com idas e vindas na PFC para compartilhar os andamentos deste processo. Ao mesmo tempo, participamos da criação, sendo tão autoras quanto todas colaboradoras desta obra. Ao final do livro há um índice, com os nomes relacionados aos conteúdos.

Que mulherES você é?

Esta foi outra das perguntas que fizemos nos processos, dentro e fora dos muros, e que segue nos acompanhando. São muitas as respostas e, com este livro e por meio dos encontros que ele tece, respondemos: Somos Mulheres Possíveis e dizemos sim à invenção de realidades através do fazer artístico.

Terminamos esta carta de apresentação com uma pergunta feita por Angela Davis, na tentativa de visualizarmos outros modos de existir:

“Um dos grandes desafios desse movimento é levar adiante um trabalho que crie ambientes mais humanos e habitáveis para as pessoas na prisão sem reforçar a permanência do sistema prisional. Como, então, alcançar o equilíbrio entre estar atento de maneira fervorosa às necessidades dos prisioneiros [...] e ao mesmo tempo, defender alternativas às penas de encarceramento como um todo, o fim da construção de presídios e estratégias abolicionistas que questionem o lugar da prisão em nosso futuro?” (DAVIS, 2018, p. 112)


Referência bibliográfica:

DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Rio de Janeiro: Difel, 2018.




Eu ia me chamar Maria Madalena, mas o avo registrou Edivania porque era o nome de urna filha que morreu.  Sou filha de Jacinete e Gercina, ia me chamar Jéssica,  mas ficou Eliane. Miriam acho que significa força. Fátima é o nome da minha bisavó. Juliana é homenagem ao  nome da amiga da minha mãe que se chamava Julieta.  Cristiane porque meu pai era apaixonado pela Cristiane  Torloni. Naftali é um nome hebraico. Samara nao sei por  que. Juliet porque é bonito. Tanaka Luanda porque meu  pai gosta da África. Grazielle porque tenho um olho azul  e outro castanho e meu nome ia ser Sulamita. Scheine  porque era o nome de urna enfermeira judaica e porque  sou herdeira de barões do café. Leticia significa alegria e  o escrivão falou para nao colocar acento. Silvia Alejandra  todos chamam de Alejandra. Monica foi meu pai que colocou, minha mãe disse que era o nome de uma mulher que ele tinha na rua. Vania porque ia me chamar  Ivana. Maria Luiza porque eu sou da praia e é o nome de  um peixe. Beatriz chamam de Bia. Sandra é arenosa. Dagma Aparecida porque minha mãe quase me perdeu e Dagma é nome de urna cigana. Anísia, Cilceli, Gislaine, Caren, Érica, Fernanda, Tabatha, Tanira, Tatiane Angela, Hilda, Ingrid, Jhoanna, Lourdes, Marlyn, Nady,  Shandelies, Maria, Suellen, Paola, Caline, Kamila, Sarah,  Rosangela, Utumphon, Cintia, Anna, Thereza, Camila,  Claudia, Cleude, Flora, Gisela, Karen, Maíra, Mariana,  Marina, Mayra, Oiga, Raquel, Renata, Thaís, Viviane, Isabel, Eloísa...




   

O meu sorriso é tão grande quanto o Rio Negro. Falar do Rio Negro é simplesmente falar de imensidão, de tesouros, de força, coragem sem limites... Nosso lindo e formoso Rio Negro nos traz um grande segredo onde os botos cor-de-rosa passeiam e trazem a magia do encontro com suas histórias do boto bravo, encantador, aquele que vira homem para seduzir as mulheres com todo seu encanto e depois simplesmente desaparecem. Lá também esconde-se a cobra Boiuna Sucuriju, a grande fera que surge do nada, corre no corpo um arrepio, o sangue nas veias fica frio, com seus olhos de fogo que encandeiam os pescadores que nele vagueiam. Grande mistério de força e coragem de um grande encontro, o encontro das águas, onde elas se abraçam, se tocam, mas não se misturam. O Rio Negro com todos os seus mistérios e o Rio Branco com sua grandeza e volume, cada um com seu jeito, ph e acidez diferente… Quando me deparo, vendo a tão grande Existência deste lindo rio, me ponho a pensar, assim é meu sorriso, sem limite. Contemplar essa enorme obra feita por Deus é simplesmente um encanto que me remete a um belo sorriso que refrigera a alma.

                     Escrita de Eliane

Mi sonrisa es tan grande como el Río Negro. Hablar del Río Negro es simplemente hablar de inmensidad, de tesoros, de fuerza, coraje sin límites… Nuestro lindo y hermoso Río Negro nos trae un gran secreto donde los delfines rosados pasean y traen la magia del encuentro con sus historias del delfín valiente, encantador, ese que se convierte en hombre para seducir a las mujeres con todo su encanto, y después simplemente desaparecen. Allá también se esconde la serpiente Boyuna Sucuriju, la gran fiera que surge de la nada, el cuerpo se va erizando, y la sangre en las venas helando, con sus ojos de fuego que deslumbran a los pescadores que en él deambulan. Gran misterio de fuerza y coraje de un gran encuentro, el encuentro de las aguas, donde ellas se abrazan, se tocan, pero no se mezclan. El Río Negro con todos sus misterios y el Río Blanco con su grandeza y volumen, cada uno con su estilo, pH y acidez diferente… Cuando me descubro, viendo la existencia tan grande de este lindo río, me pongo a pensar, así es mi sonrisa, sin límite. Contemplar esa enorme obra hecha por Dios es simplemente un encanto que me remite a una bella sonrisa que refresca el alma.

                     Escrito de Eliane

 


Participaram da tradução e revisão desta entrada: Bruna Macedo de Oliveira Rodrigues, Mario Rodríguez Torres, Ximena Vargas, Janaina Andriolli, Caterine Hernandez Valencia, Penélope Chaves Bruera e Cristiane Checchia