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Acima apresentamos um mapeamento alguns dos diversos projetos artísticos que desenvolvem atividades nos cárceres d'América Latina. Cada projeto está assinalado com um 🕮 e as homenagens com uma ★. Para ampliar a região clique ➕ e para diminuir clique ➖

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento II

Uma página ocupada por expressões comumente usadas na prisão, que estão atrás de linhas pretas que as tacham; esse é um dos textos do livro Mulheres possíveis: corpo, gênero e encarceramento que mais chamou nossa atenção e que queríamos traduzir para o espanhol. O que nos atraiu particularmente nesse texto é que ele resistiu à nossa leitura. O texto foi escrito em um português que entendemos apenas parcialmente. Nele apareceram diversas expressões que escaparam até mesmo dos registros da internet.


                                                Fonte da imagem https://www.vaniamedeiros.com/mulheres-possiveis

Para entender o que o texto queria dizer, foi necessário que o lêssemos com pessoas que viviam no território de onde provinha. Foi assim que o levamos para uma das oficinas que Direito à poesia realiza na Penitenciária Feminina de Foz de Iguaçu e perguntamos às participantes o significado das expressões. Sua identificação com o texto foi imediata. Elas sabiam e nos explicaram o significado das expressões, embora, como nos alertaram, algumas delas sejam usadas em São Paulo, mas não em Foz.

Graças às participantes da oficina, tínhamos informações suficientes para tentar traduzir o texto, mas ainda tínhamos o problema de saber para qual espanhol traduzir. Traduzi-lo para qualquer forma de espanhol padrão traria uma transparência que acabaria com ele (não é a transparência absoluta o objetivo dos mecanismos de controle?), sem mencionar o espanhol supostamente neutro que existe apenas como um artefato de mercado para neutralizar os poderes das diferentes formas de falar no continente. Por outro lado, pareceu insuficiente traduzir o texto optando por formas coloquiais de alguma variante do espanhol, pois não deixaria de apagar suas marcas territoriais. 

Para restaurar essas marcas, contamos com a colaboração de alguns coletivos da Red Feminista Anticarcelaria de América Latina, que trabalham junto com mulheres privadas de liberdade em diferentes países do continente, como: Yo no fui de Buenos Aires, Argentina; Hermanas en la Sombra de Morelos, México, e Pájarx entre Púas de Los Andes e Valparaíso, Chile. Propusemos a tarefa de traduzir o texto, com base nas explicações que enviamos a elas sobre o significado de cada expressão em português. Os resultados podem ser vistos nesta entrada. 

Como era de esperar, as tradutoras nem sempre reconheceram expressões locais análogas às usadas no presídio do Brasil, e por isso algumas não foram traduzidas. Os espaços em branco nos textos dizem respeito a essas expressões. No caso do Chile, as tradutoras de Pájarx entre Púas nos deram mais de uma opção para traduzir algumas das expressões, e decidimos incluir a maioria dessas variantes. As companheiras de Yo No Fui, da Argentina, além de traduzir as expressões, compartilharam conosco ainda outras usadas nos presídios de Buenos Aires, as quais foram incluidas no final de sua tradução.   

O processo de diálogo e construção conjunta com as coletivas da Red Feminista Anticarcelaria de América Latina não foi apenas um enriquecimento para a tradução, mas também uma experiência de conexão e aprendizagem mútua das diferentes formas de dizer das prisões da América Latina. Convidamos cada leitora/e a mergulhar nestas páginas, não apenas como um ato de descoberta, mas também como uma oportunidade de construir pontes para outros mundos.
















Participaram da tradução e revisão desta entrada: Bruna Macedo de Oliveira Rodrigues, Mario Rodríguez Torres, Ximena Vargas, Janaina Andriolli, Caterine Hernandez Valencia, Penélope Chaves Bruera e Cristiane Checchia

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento I

O livro Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento (2019) reúne alguns dos resultados dos laboratórios que as artistas Beatriz Cruz, Leticia Olivares, Sandra Ximenez e Vânia Medeiros realizaram com mulheres privadas de liberdade na Penitenciária Feminina da Capital (PFC), no Carandiru, em São Paulo, Brasil. Os laboratórios (quatro, além de "o escambo poético") podem ser resumidos como espaços para experimentar formas de ser mulher fora dos enquadramentos patriarcais e punitivistas.

A seguir, compartilhamos alguns fragmentos que traduzimos para o espanhol do livro: a introdução, onde a proposta das artistas é explicada detalhadamente, e dois textos poéticos. Um é coletivo, resultante da costura de histórias muito breves sobre o nome próprio, o que nos faz perceber a quantidade e a diversidade de mulheres que participaram dos laboratórios e que são silenciadas no espaço prisional. O outro é um texto escrito por uma dessas mulheres. Nele, a incalculável potência do corpo é apresentada como inseparável do território (amazônico) com o qual ele se funde em um sorriso.

Dedicamos a seguinte entrada a outro dos textos do livro. Os resultados que sua tradução produziu merecem uma apresentação à parte.

                                                                                               


                            

São Paulo,

05 de dezembro de 2019

Olá,

Esta é uma carta, endereçada a você, que, em algum momento da sua história, entrou em contato com este livro. “Uma carta é uma visita”, colhemos em nossas buscas de definições para esta palavra. Te convidamos, então, a visitar essa coleção de folhas de papel, impressas com fotos, textos e desenhos que apresentam um pequeno recorte da vida de algumas mulheres, durante um período determinado. Nele, imagens e palavras revelam a singularidade de cada uma, ao mesmo tempo em que contam um relato coletivo. Diversas vozes ecoando para narrar histórias possíveis.

Esta publicação é fruto do Projeto Mulheres Possíveis: corpo, gênero e encarceramento, com apoio do programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018. O trabalho, entretanto, acontece desde 2016, de forma voluntária ou com apoios pontuais de unidades do Sesc, uma ou duas vezes por semana, na Penitenciária Feminina da Capital (PFC), localizada no antigo complexo do Carandiru, em Santana, na Zona Norte de São Paulo. Esse lugar carrega uma memória que não pode ser apagada. As penitenciárias masculinas foram demolidas, foi criado um parque no local – o Parque da Juventude. As femininas permaneceram. Mais de um quilômetro de muros isolam a penitenciária das avenidas movimentadas no arredores e do cotidiano da cidade.

E você, onde você está agora?

O que você pode ver neste momento ao seu redor, do lugar onde está?

Já esteve ou está numa penitenciária?

“Consideramos as prisões algo natural, mas com frequência temos medo de enfrentar as realidades que elas produzem. Afinal, ninguém quer ser preso. Como seria angustiante demais lidar com a possibilidade de que qualquer pessoa, incluindo nós mesmos, pode se tornar um detento, tendemos a pensar a prisão como algo desconectado da nossa vida.” (DAVIS, 2018, p. 16)

Essa é uma afirmação de Angela Davis, filósofa e ativista estadunidense.

Você acha que a prisão é algo inevitável na sociedade?

Te fazemos essas perguntas porque, durante o Projeto, fizemos um monte delas – algumas triviais, outras mais complexas. Algumas estão destacadas, ao longo do livro. Foram feitas por e para mulheres, dentro e fora do sistema penitenciário. Talvez elas sejam uma forma de começar um diálogo ou de olhar ao redor da vida numa penitenciária, de entender o contexto de uma sociedade que aprisiona corpos de mulheres – sobretudo negras – de forma exponencial.


O que nos separa?

Talvez tenha sido essa, uma das perguntas que ficou reverberando por mais tempo. Chegamos até à PFC, em 2016, por um convite da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). A direção da penitenciária nos abriu as portas e sempre foi bastante receptiva às nossas idéias. Quatro mulheres artistas, que trabalham com diferentes linguagens – performance, música, artes visuais e teatro – e que, sobretudo, queriam conversar sobre corpo, gênero e encarceramento. Essas palavras passaram a ser eixos de pesquisa, conversa e experimentação e serviram para abordar temas pertinentes aos pensamentos e ações a respeito de pertencimento e autonomia dos corpos, o que é ser mulher, o que é liberdade, entre outras questões. Fomos, ao longo do projeto, criando e pensando sobre o significado desses e outros termos, construindo um glossário, a partir das definições a que chegávamos. Estes “verbetes” aparecem, ao longo do livro, em folhas azuis menores.

Começamos uma série de encontros que chamamos de Laboratórios de Criação (Labs) onde o corpo estava sempre no centro das experiências. Força, resistência, apatia, surto, cansaço, euforia, emoção: a busca era (e é) por mover algo neste espectro e nos conectar com o que está vivo em cada uma de nós.

No livro, estão imagens e palavras colhidas em quatro laboratórios de criação, que aconteceram entre outubro de 2018 e julho de 2019. No Lab_Caderno de Campo cada uma tinha um caderno, feito à mão, em que fazíamos propostas de desenho e escrita, semanalmente. A busca era por criar narrativas – ou contranarrativas – a partir daquelas que estão, todos os dias, vivendo o encarceramento. Presentificar o corpo, olhar ao redor e evocar imagens deste período.

No Lab_Performance, entrávamos todos os dias com uma mala de roupas – mais de 80 peças – para nos vestir ou despir. Tirar o uniforme e colocar sobre a pele outras camadas de subjetividade, relatar, com jogos teatrais, música e imagens, a força de cada corpo. O resultado deste momento foi uma performance apresentada para outras presas e convidadxs externos. Já no Lab_Culinária, cozinhamos e aprendemos receitas vegetarianas com a Chef Govinda Lilamrita, que conduzia o trabalho. Cozinhar era um pretexto para falar de autonomia, cuidado e de um tema importante no contexto prisional, a comida.

O Escambo Poético foi a última atividade realizada, com duração de quatro meses. Trata-se de uma troca de cartas entre mulheres que estão na penitenciária e mulheres que estão fora, inscritas mediante uma convocatória pública. Uma espécie de rede de sororidade. A carta, na prisão, é uma forma de comunicação que parece manter pulsando os corpos. O veículo para o encontro de mulheres que não se conheciam e se propuseram a trocar ideias, angústias, desejos, medos… Nós fazíamos o leva e traz. Em cada encontro, tanto dentro como fora, além de ler e responder às cartas, sugerimos textos de diversas autoras para serem discutidos, atividades reflexivas, exercícios corporais, de escrita e de desenho.

O livro também apresenta, além dos ecos destes momentos criativos, duas conversas entre mulheres que têm envolvimento com o sistema penitenciário e o Projeto. Trazemos, então Walessandra Souza Rodrigues entrevistando Dina Alves, e Govinda Lilamrta sendo entrevistada por Yamila Goldfarb. São vozes que se somam para pensarmos sobre o encarceramento de maneira mais ampla. Afinal, pensar sobre as mulheres que estão presas é pensar sobre como queremos, enquanto sociedade, lidar com a desigualdade social, a violência contra a mulher – em diversos âmbitos – o racismo e a política a respeito das drogas.

Procuramos, nesta publicação, não hierarquizar importância entre textos, imagens, desenhos e autorias. As narrativas são sobrepostas e entrelaçadas. Fomos responsáveis pela organização deste material, sempre em diálogo, com idas e vindas na PFC para compartilhar os andamentos deste processo. Ao mesmo tempo, participamos da criação, sendo tão autoras quanto todas colaboradoras desta obra. Ao final do livro há um índice, com os nomes relacionados aos conteúdos.

Que mulherES você é?

Esta foi outra das perguntas que fizemos nos processos, dentro e fora dos muros, e que segue nos acompanhando. São muitas as respostas e, com este livro e por meio dos encontros que ele tece, respondemos: Somos Mulheres Possíveis e dizemos sim à invenção de realidades através do fazer artístico.

Terminamos esta carta de apresentação com uma pergunta feita por Angela Davis, na tentativa de visualizarmos outros modos de existir:

“Um dos grandes desafios desse movimento é levar adiante um trabalho que crie ambientes mais humanos e habitáveis para as pessoas na prisão sem reforçar a permanência do sistema prisional. Como, então, alcançar o equilíbrio entre estar atento de maneira fervorosa às necessidades dos prisioneiros [...] e ao mesmo tempo, defender alternativas às penas de encarceramento como um todo, o fim da construção de presídios e estratégias abolicionistas que questionem o lugar da prisão em nosso futuro?” (DAVIS, 2018, p. 112)


Referência bibliográfica:

DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Rio de Janeiro: Difel, 2018.




Eu ia me chamar Maria Madalena, mas o avo registrou Edivania porque era o nome de urna filha que morreu.  Sou filha de Jacinete e Gercina, ia me chamar Jéssica,  mas ficou Eliane. Miriam acho que significa força. Fátima é o nome da minha bisavó. Juliana é homenagem ao  nome da amiga da minha mãe que se chamava Julieta.  Cristiane porque meu pai era apaixonado pela Cristiane  Torloni. Naftali é um nome hebraico. Samara nao sei por  que. Juliet porque é bonito. Tanaka Luanda porque meu  pai gosta da África. Grazielle porque tenho um olho azul  e outro castanho e meu nome ia ser Sulamita. Scheine  porque era o nome de urna enfermeira judaica e porque  sou herdeira de barões do café. Leticia significa alegria e  o escrivão falou para nao colocar acento. Silvia Alejandra  todos chamam de Alejandra. Monica foi meu pai que colocou, minha mãe disse que era o nome de uma mulher que ele tinha na rua. Vania porque ia me chamar  Ivana. Maria Luiza porque eu sou da praia e é o nome de  um peixe. Beatriz chamam de Bia. Sandra é arenosa. Dagma Aparecida porque minha mãe quase me perdeu e Dagma é nome de urna cigana. Anísia, Cilceli, Gislaine, Caren, Érica, Fernanda, Tabatha, Tanira, Tatiane Angela, Hilda, Ingrid, Jhoanna, Lourdes, Marlyn, Nady,  Shandelies, Maria, Suellen, Paola, Caline, Kamila, Sarah,  Rosangela, Utumphon, Cintia, Anna, Thereza, Camila,  Claudia, Cleude, Flora, Gisela, Karen, Maíra, Mariana,  Marina, Mayra, Oiga, Raquel, Renata, Thaís, Viviane, Isabel, Eloísa...




   

O meu sorriso é tão grande quanto o Rio Negro. Falar do Rio Negro é simplesmente falar de imensidão, de tesouros, de força, coragem sem limites... Nosso lindo e formoso Rio Negro nos traz um grande segredo onde os botos cor-de-rosa passeiam e trazem a magia do encontro com suas histórias do boto bravo, encantador, aquele que vira homem para seduzir as mulheres com todo seu encanto e depois simplesmente desaparecem. Lá também esconde-se a cobra Boiuna Sucuriju, a grande fera que surge do nada, corre no corpo um arrepio, o sangue nas veias fica frio, com seus olhos de fogo que encandeiam os pescadores que nele vagueiam. Grande mistério de força e coragem de um grande encontro, o encontro das águas, onde elas se abraçam, se tocam, mas não se misturam. O Rio Negro com todos os seus mistérios e o Rio Branco com sua grandeza e volume, cada um com seu jeito, ph e acidez diferente… Quando me deparo, vendo a tão grande Existência deste lindo rio, me ponho a pensar, assim é meu sorriso, sem limite. Contemplar essa enorme obra feita por Deus é simplesmente um encanto que me remete a um belo sorriso que refrigera a alma.

                     Escrita de Eliane

Mi sonrisa es tan grande como el Río Negro. Hablar del Río Negro es simplemente hablar de inmensidad, de tesoros, de fuerza, coraje sin límites… Nuestro lindo y hermoso Río Negro nos trae un gran secreto donde los delfines rosados pasean y traen la magia del encuentro con sus historias del delfín valiente, encantador, ese que se convierte en hombre para seducir a las mujeres con todo su encanto, y después simplemente desaparecen. Allá también se esconde la serpiente Boyuna Sucuriju, la gran fiera que surge de la nada, el cuerpo se va erizando, y la sangre en las venas helando, con sus ojos de fuego que deslumbran a los pescadores que en él deambulan. Gran misterio de fuerza y coraje de un gran encuentro, el encuentro de las aguas, donde ellas se abrazan, se tocan, pero no se mezclan. El Río Negro con todos sus misterios y el Río Blanco con su grandeza y volumen, cada uno con su estilo, pH y acidez diferente… Cuando me descubro, viendo la existencia tan grande de este lindo río, me pongo a pensar, así es mi sonrisa, sin límite. Contemplar esa enorme obra hecha por Dios es simplemente un encanto que me remite a una bella sonrisa que refresca el alma.

                     Escrito de Eliane

 


Participaram da tradução e revisão desta entrada: Bruna Macedo de Oliveira Rodrigues, Mario Rodríguez Torres, Ximena Vargas, Janaina Andriolli, Caterine Hernandez Valencia, Penélope Chaves Bruera e Cristiane Checchia

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Monólogo da Caixa d'água




Na Unidade Penitenciária N°1 de Lisandro Olmos há uma grande caixa d’água que se projeta acima de seus muros. A caixa d’água é um elemento que identifica esse presídio masculino localizado no Partido de La Plata, província de Buenos Aires, Argentina. Mas esse elemento que identifica o presídio poderia ser reconhecido como um monumento histórico? Essa foi a pergunta que surgiu na oficina de leitura e escrita coordenada por Carlos Ríos e Francisco Pourtalé na Escola de Ensino Primário para Adultos N° 701 (EEPA N° 701) da referida prisão e que deu origem ao texto que compartilhamos nesta entrada.

A pergunta indiretamente questiona o que é considerado digno de lembrança e atenção social. Será que isso pode existir em uma prisão? Ríos e Pourtalé propõem aos participantes da oficina que seja a caixa d'água quem responda. Dessa forma, eles propõem um significativo exercício de escuta que o leitor do livro também terá que fazer. Deve-se ouvir aquele que foi colocado no lugar de não-falante, deve-se ouvir a caixa d’água. Ouvi-la contar sobre o que observa no presídio, como tem sido sua vida ali, seus anseios e perspectivas futuras. É claro que em sua voz é possível ouvir o eco das vozes dos participantes da oficina. Mas eles não se apresentam no relato para dar seu testemunho direto ou para se confessar, como muitas vezes se espera das pessoas privadas de liberdade quando lhes é dada a palavra. A perspectiva que eles nos oferecem e nos convidam a assumir é outra: a da caixa d’água lá no alto, acima da prisão, de onde é possível ver e ouvir coisas que escapam aos que estão embaixo, em um ou outro lado do muro.

Mudanças de perspectiva como essa — traçar linhas de fuga, experimentar usos e formas de circulação de palavras que desafiam as divisões simbólicas e materiais estabelecidas — têm sido a busca constante de Carlos Ríos, tanto nas oficinas de leitura e escrita e de edição que ele vem ministrando nas prisões desde 2011, quanto em seus trabalhos fora delas. Nascido em Santa Teresita (Partido de La Costa), Ríos tem uma extensa produção literária, que inclui títulos já traduzidos para o português, tais como Manígua, Caderno de Pripyat e O artista sanitário, assim como seu recente romance Falsa Familia, uma ficção em que aparecem algumas de suas experiências dando oficinas em prisões e que inclui documentos resultantes delas. Ríos também é o criador da editora artesanal Oficina Perambulante, que em sua página no Instagram é descrita como "proliferante, repentista e silvestre". Entre as obras que coordenou nas prisões estão Sin pena, Haikus Libres, Estamos Todos Bien e Diccionario de la vida. Sobre este último, Ríos escreveu o artigo "O dicionário da vida: Escrita coletiva, linguagem em contextos de cárcere" para a revista Periferias.

Francisco Pourtalé, o outro coordenador da oficina da qual resultou o Monólogo da caixa d’água, é ator, diretor, dramaturgo e professor de teatro. Um vídeo de apresentação do livro, com os autores lendo partes do texto, está disponível (em espanhol) no site do Centro de Arte da Universidad de La Plata (UNLP).


Monólogo da Caixa d'água









Prólogo


Partindo das reflexões voltadas à função social dos monumentos históricos, os alunos da Oficina Literária da Escola de Educação Primária para Adultos nº 701 questionaram se a icônica caixa d’água da unidade de Lisandro Olmos poderia ser considerada um monumento.

O que aconteceria se a mesma caixa d’água, através da sua voz trabalhada pela inspiração e pelo compromisso com a escrita coletiva nos desse sua opinião a respeito?

Foi assim que o Monólogo da caixa d’água cresceu até tornar-se um livro.

Dos seus 35 metros de altura, a observação autobiográfica da caixa d’água é dupla e simultânea: por um lado, examina as condições de vida das pessoas privadas de liberdade e as protege, oferecendo-lhes a vitalidade da sua água e seus sábios conselhos; por outro lado, projeta uma espacialidade voltada para o exterior e se imagina estando na costa atlântica, num parque de diversões que alguma vez foi um presídio, ou no centro de uma concorrida praça pública.

A caixa d’água de Olmos, com sua enorme sabedoria, vem nos dizer que apesar dos anos ela segue de pé e luta a cada dia pela sua liberdade, que é também a nossa. Uma prática essencialmente coletiva, cuja construção nos envolve como o sol que a cada dia nos ilumina e nos dá a possibilidade de uma nova vida.

Carlos Ríos y Francisco Pourtalé
Coordenadores da Oficina Literária


                                                                                                    fotos de Ezequiel Medina
                        

Apresentação

Eu sou a famosa e conhecida caixa d’água de Lisandro Olmos.

Muitas vezes me aconteceu de não saber como expressar o que eu sinto, vejo e penso. Nunca antes tive a oportunidade. Muitas vezes me sinto cansada e até canso de estar sempre no mesmo lugar. Tem bastante tempo que estou aqui trancafiada e me deu na telha escrever o que sou obrigada a viver diariamente. Gostaria que lessem e que me considerem como um monumento, que é o que acredito ser.

Muitos me conhecem muito bem e até posso dizer que alguns me consideram como uma amiga.

Minha história é um pouco triste, já que quase toda a minha vida me criei e morei num estabelecimento penitenciário, em um contexto de encarceramento, onde tive que ver milhões de coisas que me fizeram crescer e amadurecer rapidamente. Todos os dias são quase parecidos, a rotina vai mudando, assim como as pessoas que vivem aqui. O ambiente às vezes é triste, mas sempre o encaramos da melhor maneira. Vem gente de fora para trazer um sorriso, para compartilhar algo com meus companheiros os presos, quando a visita acaba, eles saem muito tristes.

Sinto essa tristeza porque a vejo todos os dias. Mas é algo com o qual se lida nesta vivência. Há algum tempo atrás eu era muito admirada por todos e quando me construíram, fui vista como algo fundamental. Hoje, muitos anos se passaram e me sinto esquecida. Não dão muita importância para mim, só me ignoram.

Já vi e ouvi muitas coisas, embora ninguém me ouça.

Já faz muito tempo que estou sozinha e que estou sendo largada. Gostaria muito de poder ter um amigo ou alguém para vir me ver e cuidar de mim, porque já estou com muitos anos. Gostaria muito que me ajudassem a mudar minha imagem, que me limpassem, que me mantivessem cheia e, acima de tudo, que me cuidassem e valorizassem.

Sinto que pouco a pouco estou sendo esquecida mais e mais. Ninguém vem tirar uma foto comigo, nem me pergunta como eu estou ou se quero uma simples mãozinha de tinta.

Por que para o Obelisco sim e para mim não?

Talvez alguns não percebam que eu sou importante e necessária…


Visita


São seis da manhã.

Eu vejo todos eles muito felizes por ser dia de visita.

Eu vejo a mesma coisa há anos: famílias de internos passando frio, deitadas em um papelão desde o dia anterior, cobertas com mantas. Eu vi e sofri chuvas, ventos, granizo, trovões relâmpagos, dias nublados, ensolarados, junto com a família de cada interno, passamos e compartilhamos muito tempo.

Eu, daqui, sofro frio, calor e chuva.

É muito difícil para mim não ficar mal de ver todas essas pessoas que passam todos os dias pela mesma coisa que eu. E me entristece ver como os anos passam e eu continuo aqui. Muitas pessoas ficam, outras vão embora e a maioria talvez deu o último adeus

O poema da caixa d’água


O passar dos dias parece cada vez mais lento
As horas passam, vejo as atividades todos os dias
Todos querendo encontrar sua saída e eu percebo muito isso
A vida de uma pessoa privada não é para um qualquer
espero que reflita no dia em que fora estiver.


Mais um grande dia em Olmos


Hoje acordei bem, já que é um dia ensolarado e com bastante atividade, pelo que se vê. Muita gente saindo para a escola, alguns também vão para a quadra, tudo se encaminha para ser um grande dia.

Eu olho para a rua e me pergunto se algum dia vão me deixar sair para dar um passeio. Meu maior passatempo é olhar para o campo, nesses momentos sinto muita paz interior e consigo me conectar comigo mesma, mas nem sempre isso funciona. Tento ser simpática com todos, mas sinto que ninguém é simpático comigo. É que me deixam muito largada e às vezes até penso que vão me demolir.

Logo atravessando a rua tenho uma grande amiga, é a caixa d'água da casa de Cíntia, também faz bastante tempo que está ali e somos bons amigos. Ela diz que não sabem me valorizar e que eu sou um monumento da Província. Sou muito grata a ela porque sempre me anima.

É um lindo dia de primavera, adoro sentir o ar quentinho desta época em meu rosto. Também gosto dos dias de semana, porque as pessoas que estão lá embaixo estão muito ativas fazendo isso e aquilo. O que não entendo é por que ninguém tira um tempo para subir até aqui para me visitar.

Eu seria um bom lugar de fuga para aqueles momentos em que a gente quer ficar sozinho. Também sou um bom lugar para ter um encontro às escondidas, mas esses encontros sempre acontecem em outros lugares.

Não entendo por que muitos me veem como um ícone do mal, já que ouvi muitas histórias quando alguém novo entra. A primeira palavra quase sempre é a mesma - "uff, mal cheguei vi a caixa d’água de Olmos e caiu a ficha". Não entendo por que uma caixa d'água poderia causar medo; eu só dou água e esperança.

Vou ensinar um truque para vocês: quando se cansarem de ver apenas grades e muros, olhem para mim e vão ver apenas o céu azul ao meu redor.

Ouvi dizer que isso ajuda a desanuviar.


A coroa de Olmos


À primeira vista, as pessoas costumam dizer que apenas levo água. Eu gostaria que mudassem meu nome porque não sou uma simples caixa d’água. Sou a COROA DE OLMOS, talvez não seja tão majestosa como uma coroa deve ser, mas estou acima de muitas coisas e no topo de um grande edifício, acima de muitas pessoas. Isso não me torna uma coroa, mas eu gostaria de ser chamada assim. Algo que me confunde é por que algumas pessoas param alguns segundos só para me contemplar ou me cumprimentar. Eu sou educada, dou bom dia e até boa noite.

Não sou apenas uma caixa d'água: também sou interna, uma presa a mais, privada da minha liberdade, e pela vida toda. De dia, ofereço água e vida a todos esses prisioneiros que lutam para sobreviver. De noite, sou uma guardiã e cuido deles e das visitas que vejo passar.

Todos os dias a vontade de continuar «guerreando» por eles me impulsiona, porque sinto que se eu desmoronar, tudo ao meu redor desmoronará, muitos sonhos morrerão e muitas famílias esperarão sem consolo mais uma vez.

E eu não quero frustrar as esperanças que cada um deles leva porque refletem em mim como a água que levo aqui dentro. Só posso aconselhá-los a não morrerem de esperar. As esperanças nunca devem morrer. E tudo isso é apenas um fato que um dia acabará.


Passeio pelos andares


Ao longo de todos esses anos também notei que as pessoas aqui não são todas iguais e, por isso, são separadas por grupos, galerias e até por andar.

Abaixo de tudo estão as pessoas mais trabalhadoras (as oficinas); no primeiro andar estão aqueles que se esforçam mais para ter bom comportamento, no segundo andar estão os mais agitados, mas tenho notado que a cada ano ficam mais calmos.

No terceiro andar estão aqueles que trabalham e se voltam a Deus. No quarto andar parecem estar as pessoas mais alegres, às vezes nem mesmo o sol nasceu e eles já estão cantando e pulando, às vezes é um pouco irritante. E no quinto andar estão os mais próximos de sair.

Às vezes eu gosto de pensar que sou sortuda porque vejo duas perspectivas de vida muito diferentes, por um lado vejo olhares desolados, e outros com muita esperança. Lá fora, são poucas as pessoas que param para contemplar o dia, o clima, a natureza.

Se eles soubessem que aqui há muitas pessoas esperando apenas para dar uma volta no quarteirão! Vi e conheci muitas pessoas que vão embora e voltam, outros que vão embora e nunca mais voltei a ver, e isso é a melhor coisa.

Eu sou muito otimista e sonho com o dia em que retirem meu amigo muro, que removam as grades e coloquem muitos brinquedos. Enfim, meu grande sonho é fazer parte de um parque de diversões. Mas, por enquanto, eu continuo sendo apenas a caixa d'água de Olmos.


Aventura de pombos


Às vezes não posso desfrutar da primeira luz do dia porque os malditos pombos sempre estão incomodando e hoje não foi exceção. No entanto, eu estive conversando com meus amigos pombos e eles me disseram: "conte para nós a sua história e nós a contaremos, assim você se tornará famosa e voltará a ser como antes".

Eu contei a eles que fui construída para dar água porque a água é vida, algo que antes era muito admirada pelas pessoas. Eu era muito boa e necessária. Mas os anos passaram, geração após geração, e começaram a me ver como uma coisa qualquer.

Um dia, no entanto, consegui meu objetivo: ser admirada e reconhecida graças aos meus amigos pombos. Acontece que eles chamaram todos os seus amigos e vieram beber da minha água. Eram um monte e isso chamou a atenção de muita gente, a notícia saiu nos telejornais: A GRANDE CAIXA D’ÁGUA ESQUECIDA AINDA DÁ VIDA E PROVAMOS ISSO: CINCO MIL POMBOS SE REÚNEM PARA BEBER ÁGUA NA MAIOR E MAIS ESQUECIDA CAIXA D’ÁGUA.

Assim, tudo voltou ao normal: me limparam, me encheram e me pintaram.

Agora eu sou uma caixa d’água nova.



Da quadra


Interno - Escuta-se a voz do encarregado do andar gritando "quadra!!!" E eu saio da cama entusiasmado para tomar o sol que faz tempo não pega no meu rosto, vejo minha pele branca como a folha na qual estou escrevendo. Ao descer as escadas escuras de Olmos, vejo como o sol brilhante deslumbra os meus olhos e me enche de energia. Jogando bola com os meninos, chama minha atenção a gigantesca caixa d’água e me pergunto se ela se sentirá sozinha...


Inferno


Tão alto e tão longe de tudo.

Muitos vão embora pelo mesmo lugar por onde entraram e eu ainda estou aqui em pé, não sei até quando. Com o decorrer do tempo vi muita gente passar, mas atualmente a maioria são adolescentes.

Também vejo muitas coisas boas e ruins.


E eu penso: por que tanta dor e sofrimento? Por que eu tenho que ser uma caixa d’água e ver tudo isso? Meu maior desejo é sair dessa realidade que me rodeia: pessoas esquecidas por diferentes motivos ou por erros pelos quais não voltarão para suas casas. Eu sinto que a cada dia que passa vou me enchendo de angústia, por tantas famílias destruídas.

Vejo ao meu redor casas humildes, negócios, fábricas. Pessoas criando filhos sem se importar ou sem saber se um dia eles vão pisar nisto que chamam de prisão.

O lugar dos esquecidos. O inferno.

Se eu tivesse que escolher um lugar no mundo, me fixaria em uma praia bonita onde todos vão para desfrutar e compartilhar boas energias em todos os lugares.


Deus e a caixa d’água de Olmos


Num dia como hoje, a caixa d’água estava pensativa, cansada já de tantos anos de trabalho fornecendo água para a unidade penitenciária e de ver tantos humanos ao longo desses anos.

Caixa d’água: Me pergunto, quando será o dia da minha aposentadoria? (Sem que a caixa d’água perceba, um ser onipresente aparece e responde)

Deus: Você foi feita para fornecer água durante toda a sua vida. Você é um objeto inanimado e assim será para sempre, da mesma forma, por aqui continuarão passando humanos, porque estão pagando por seus crimes.

Caixa d’água: E quem é você para dizer essas coisas e opinar sobre a minha vida?

Deus: Eu sou aquele ser onipresente que os humanos chamam de "Deus". Eu tudo vejo e tudo ouço.

Caixa d’água: Então, se você é um ser tão poderoso quanto todos pensam, por que não me dá a oportunidade de ser humano por um dia?

Deus: Vou conceder esse sonhado desejo para que você possa ver, sentir e ouvir como um humano, ver por que as unidades penitenciárias são necessárias para a reinserção social e para que os crimes sejam pagos perante a suposta lei implementada por eles.

Caixa d’água/Humano: Você vai me deixar aqui dentro por 24 horas como humano?


Deus: Sim, para que você veja a vida que "seus companheiros" levam aqui dentro, para que veja que cumpre uma função essencial neste lugar.
(Quando a caixa d’água é transformada em humano, desaparece o fornecimento de água para a unidade.)

Caixa d'água/Humano: Eu não sabia que ao desaparecer, também desapareceria a água deste lugar. Você não me ajudaria ficando por 24 horas fornecendo água? Caso contrário, eu não poderia levar a vida comum do dia a dia.

Deus: Tudo bem. Desta vez, eu vou te ajudar e me transformarei em uma caixa d’água. Em troca, no final do dia, quando você voltar, quero uma reflexão sua sobre como são os humanos.

(E assim foi. A caixa d’água viveu a experiência durante o dia de como é ser um humano privado de sua liberdade e no final do dia voltou com sua reflexão.)

Deus: Qual é a sua reflexão?

Caixa d'água/Humano: Aqui é um lugar muito triste, há muito potencial desperdiçado, pessoas que poderiam ser importantes, médicos, escritores, advogados e até professores, mas que por erros cometidos ou por não terem tido as oportunidades adequadas acabaram atrás das grades. A reflexão que eu posso fazer é que errar é normal, já que cometer erros é humano, ninguém é perfeito. Até você, Deus, que parece ter abandonado todos esses humanos em pena e são sua criação. Se eles erram, então você é tão culpado quanto eles.



Espírito de liberdade


Quero sair, os anos estão pesando sobre mim.

Eu estou neste lugar, na mesma posição, há cerca de 90 anos. Esta vida não é para ninguém. Aqui têm brigas contra a própria morte; o Estado não vê e a Administração também não.

Eu gostaria que me retirassem daqui e me restaurassem, que me transferissem para o centro da cidade e me reconhecessem como monumento histórico. Também gostaria de ir morar com meu primo, o farol que está na costa de Mar del Plata, onde todos vão de férias e tiram fotos com ele.

Todos os dias eu volto a brilhar, o sol me rodeia, o espírito de liberdade está chegando, minhas pernas são fortes e me ajudam a nunca cair, sempre em pé. Nada vai me derrubar, exceto a demolição que um dia virá.

Hoje eu só penso em desfrutar desses dias de sol e ar fresco.





Parece que meu destino é desmoronar neste lugar, sozinha, triste e esquecida. Observo ao meu redor e vejo muitas coisas boas, assim como o que é ruim. De toda essa triste realidade, são poucos os que se adaptam ao ritmo da sociedade.

Sendo que muitos vão embora, são muito poucos os que ficam em liberdade. O resto, retorna.

A cada manhã eu os via na janela, consumindo um cigarro, pensativos e angustiados. Do meu ponto de vista, eu conseguia ver todos os seus pensamentos.

«Que lindo foi o dia, nunca pensei que um dia como esse pudesse chegar a sentir tantos sentimentos em mim: felicidade e tristeza. Meu filho está tão grande, sinto vontade de sair e estar com ele, e dar a ele o melhor para que nunca fracasse e passe por algo semelhante. Fico com muita raiva de ter que me despedir dessa forma, não aguento. Meu filho chora ao se despedir de mim. Que triste pensar que falhei com ele durante muitos anos. Espero desta vez não voltar a ser o mesmo egoísta e desleixado.»

-Que pena. Que sentimento tão contagiante. Parece que compartilhamos o mesmo sentimento, afastar-nos deste lugar sem que nada nem ninguém nos impeça, e ser felizes vivendo a vida que é tão bonita, apesar dos obstáculos e do que escolhemos viver.




Para a tradução do “Monólogo da Caixa d'água” para o português, usamos uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA), o Chat GPT, como experimento. Com o Chat GPT, fizemos uma primeira versão que depois revisamos cuidadosamente. A IA respondeu com limitações significativas em aspectos como a falta de reconhecimento da ironia ou de termos de uso local. A versão final inclui um número considerável de alterações. Para não cometer injustiças, devemos dizer que os possíveis erros de tradução são de nossa inteira responsabilidade, não do Chat!

Participaram na tradução e revisão do “Monólogo da Caixa d'água”: Bruna Macedo de Oliveira Rodrigues, Mario Rodríguez Torres, Ximena Vargas, Janaina Andriolli e Penélope Chaves Bruera.

 

Fotos de Francisco Pourtalé